A Globalização e Outras Coisas Criadas pela Globo

| terça-feira, 8 de dezembro de 2009
Acordo. São nove e meia da manhã. Levanto e caminho na direção do banheiro. Abro a portinhola acima da pia e puxo um tubo de colgate pra escovar os dentes. Lavo o rosto. Saio do banheiro e pego o jornal na varanda de casa. 'Barack Obama ganha Prêmio Nobel da paz'. Sento no sofá e enquanto preparo o café aperto o botão do meu computador esperando que o sistema operacional da microsoft se inicie. Acesso dáblio dáblio dáblio ponto google ponto com e pesquiso sobre as condições climáticas dos próximos três dias, na minha cidade ao sul do Brazil. Previsão de sol e calor. Depois disso acesso dáblio dáblio dáblio ponto hotmail ponto com e vejo cinco emails novos, dois deles com uma propaganda para comprar, respectivamente, um livro sobre as técnicas de sedução desenvolvidas por um cientista norte americano e os produtos em liquidação da loja virtual do ebay. É domingo e o sol invade a janela da sala aquecendo as minhas costas. Resolvo trocar de roupa para dar uma caminhada. Coloco um conjunto esportivo da nike, com um tênis testado sobre as mais terríveis condições para aguentar o tranco das minhas longas passadas. Vou pra rua.
Dois dias antes eu havia tomado uns drinks a mais na festa open bar que fui em uma balada que reuniu dois dos melhores dj's do Brazil, e não havia nada melhor do que uma caminhada saudável de domingo para recuperar aquela ressaca. Enquanto acelero o passo em frente a algumas lojas, que estarão abertas até o meio dia, vendendo todas aquelas coisas que a gente sonha em ter e que só o dinheiro pode comprar, penso comigo - 'que bela anta foi o Karl Marx'! Se não fosse a luta de classes ainda estaríamos por aí desenhando e resmungando dentro de cavernas. Enquanto os macacos estavam comendo bananas pelas selvas paleolíticas os homens estavam fechando o pau atrás de fogo. E foi preciso que esse quebra-quebra atravessasse os séculos para que os nossos ancestrais peludões conseguissem fazer suas barbas com gillette. E muitas cabeças rolaram para que o homem conseguisse fazer coisas simples, como andar de avião num desses boeings que atravessam o mundo, levar a família pra passear dentro de um carro de qualquer cor ('desde que seja preto') ou trepar de camisinha com jontex.
Moro num bairro próximo ao centro da cidade e com um pouco mais de uma hora de caminhada consigo chegar ao principal Shopping Center da região. É quase meio dia e os restaurantes da praça de alimentação estão movimentados. Todos aqueles big macs gordurosos, aqueles sundays, os copões de coca cola e os menus coloridos escritos em inglês abrem o meu apetite e acabam levando aquela corrida saudável de domingo a um banquete condenado à indigestão. Na mesa ao lado vejo uma criança brincando com bonequinhos da disney ganhos na compra de um lanche em algum restaurante fast food. Ela aparenta ter um pouco mais de doze anos e está acima do peso. O rapaz que acompanha o menino é mais velho e usa uma camisa dos lakers com o nome de Kobe Bryant estampado nas costas. Enquanto morde um pedaço de picles que insiste em sair de seu sanduíche escuta música num mp3 player com um fone de ouvido, e ainda que eu esteja na mesa ao lado consigo ouvir a batida frenética feita por um desses rappers que fazem a cabeça de meninos da classe média baixa do Brazil que sonham em ser como os rapazes da periferia norte americana.
Somos escravos. Não conseguimos sequer olhar pra lua sem que uma bandeira azul e vermelha esteja fincada nas nossas direções. Os Estados Unidos invadem a casa de bilhões de pessoas todos os dias com os seus filmes, as suas músicas, os seus seriados de televisão, os seus produtos tecnológicos, os seus padrões de beleza, os seus reality shows, os seus best sellers, os seus websites, e transformam grande parte da população mundial em escravos da sua barbárie. Estamos condenados a trabalhar em prol do american way of life até que, através do jeitinho brasileiro, nossos políticos roubem os nossos útimos trocados e nos matem de desgosto a cada vez que uma propaganda passar na televisão e nos sentirmos mais pobres ainda do que já somos.

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